segunda-feira, 26 de setembro de 2016

ESPORTE E EMOÇÃO SOCIAL


Há alguns dias que se encerrou o maior evento esportivo e, diante do sucesso anunciado pela mídia, apesar de alguns incidentes de infraestrutura nos alojamentos dos atletas, despencamento de uma câmera de TV sobre um torcedor nas arquibancadas da Vila Olímpica, ataque a um ônibus que transportava uma equipe de jornalistas, etc. Mas, duas ocorrências que me chamaram atenção foram as manifestações nos meios midiáticos e redes sociais após a conquista da medalha de ouro da judoca Rafaela Silva e da eliminação da nadadora Joana Prado. Após esses fatos, diversas pessoas tomadas por intensa carga emocional e, por diferentes visões de enxergar a sociedade brasileira promoveram debates, que o principal espaço foram as redes sociais.
O êxito esportivo de Rafaela Silva, que a levou a premiação da medalha de ouro, foi interpretado de muitas formas, até de doutrinas antagônicas, por conta de sua origem social e de sua cor de pele. Os argumentos que mais se destacaram e se chocaram na busca da verdade dogmática foram: por um grupo que Rafaela foi premiada por seu próprio mérito, mostrando que cota para negros é uma heresia e; e pelo outro que ela escancarou o pecado mortal da exclusão social de um país, em que há uma elite de espíritos caídos que pregam a mentira da meritocracia e, agem hipocritamente ocultando a realidade social.
O curioso que essa atleta, quando eliminada nas Olimpíadas de Londres sofreu a maior ofensa que, segundo a mesma relatou numa entrevista, de sua vida. Foi agredida verbal e moralmente por ter origem pobre e negra, que por conta dessas qualificações não se poderia alcançar postos mais altos, tanto no esporte quanto na vida.
A nadadora Joana Prado, atleta exaltada pela mídia como esperança de ser medalhista na Olimpíadas deste ano, não obteve o êxito esperado de chegar ao menos entre as três primeiras colocadas, sendo eliminada de participar nas finais. Após a confirmação de sua eliminação, diversas pessoas publicaram e comentaram nas redes sociais ofensas dirigidas de tal brutalidade em que não pouparam seu trauma de ter sido abusada sexualmente na infância por um antigo treinador.
Tendo esses fatos como exemplos de que ocorrências que ganham espaços midiáticos podem provocar uma comoção emocional intensa, extrapolando os limites éticos, pondo para a plena luz as agressões verbais com requinte de crueldade, que por um determinado momento, os que assumem o papel de agressores extravasam seu ódio contido sem encontrar espaços para a racionalidade.
Portanto, se pode analisar até que ponto em nosso cotidiano agimos racionalmente e, até que ponto a influência emocional interfere nas nossas escolhas de pertença de grupo, de ideologia, de crenças religiosas, etc.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

A PROPOSTA DE REDUÇÃO DOS DIREITOS TRABALHISTAS E O PROGRESSO

No dia 08 de julho alguns sites noticiaram o encontro do Presidente da República Michel Temer com os industrialistas ligados à CNI (Conferência Nacional da Indústria) e, entre os assuntos tratados em pauta, o que mais se destacou foi a posição do presidente desta conferência, Robson Braga, que em nome dos industrialistas propôs ao Presidente Temer a aprovação de mudanças urgentes nas leis trabalhistas e previdenciárias. Entre essas mudanças há a proposta do aumento da jornada de trabalho de 8 horas para as 12 horas, somando ao todo 60 horas semanais, argumentando que com mais horas de exploração da força de trabalho do operário o Brasil melhorará seu déficit fiscal e, com isso a indústria nacional ganhará competitividade.
Diante dessas propostas a nossa sociedade se encontra diante de um dilema que poderá atingir a maior parte da população nacional, a grande massa que forma a classe trabalhadora, que sustenta os ganhos dos industrialistas e o dinheiro utilizado na corrupção nas instituições públicas e privadas, que somam milhões de reais, desviados de suas finalidades, causando deficiências nos investimentos das necessidades básicas das famílias da classe trabalhadora. Nesta perspectiva, nos encontramos diante de propostas que caso forem levadas adiante poderão agravar ainda mais a condição de vida desta classe, causando o empobrecimento de suas famílias.
Além disso, considerando a história da luta e organização da classe trabalhadora desde a consolidação do capitalismo industrial na Europa no fim do séc. XVIII e início do séc. XIX, pode-se compreender que propostas como estas podem se tornar fontes de retrocessos de garantias de direitos sociais, pautadas na segunda onda de reconhecimento dos direitos humanos fundamentais, que a dignidade do trabalho só pode ser considerada como tal se houver meios de proteção e promoção do bem estar do trabalhador.
Atualmente, o governo francês tomou a medida de aumentar a jornada de trabalho para até 12 horas, com o intuito de aumentar a competitividade de sua indústria com os demais países europeus mais ricos. Porém, a classe trabalhadora não recebeu essas mudanças passivamente, e sim, se mobilizou e organizou manifestações, consciente da histórica luta desta classe em solo francês, que mudanças desta natureza ofendem a memória de inúmeros membros desta classe que foram massacrados nas ruas de Paris e de outras cidades em nome das conquistas dos direitos sociais, no decorrer do séc. XIX e meados do séc. XX.
Além do mais, não se pode esquecer a memória das primeiras organizações da classe trabalhadora no Brasil, que muitos foram tratados como criminosos por lutar pelos direitos sociais já conquistados pelos países europeus, pioneiros na luta pelos direitos sociais. A CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) foi um esforço que custou o sofrimento da classe trabalhadora organizada, resistente a repressão violenta da elite brasileira.

Se tratando da memória desta luta, se dar conta que o presidente da CNI apresenta num discurso técnico e calculista como proposta de progresso para o Brasil, mudanças para reduzir os direitos sociais, garantirá meios para efetivar o maior ganho de capital aos industrialistas e, em contrapartida o agravamento da pobreza da maior parte da população brasileira e, redução de seus direitos duramente conquistados.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

OS PROBLEMAS APRESENTADOS NOS APARTAMENTOS DA VILA OLÍMPICA SÃO OS PROBLEMAS MAIS GRAVES DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO?

Desde que se começou a noticiar a respeito dos problemas apresentados nos apartamentos dos prédios da Vila Olímpica, no Rio de Janeiro, os telejornais comentam com muita freqüência este ocorrido. São queixas apresentadas por algumas delegações dos atletas estrangeiros. Destaque para a delegação australiana, que protestou com mais veemência. Diante da repercussão deste fato na mídia, muitos jornalistas se dedicaram a comentar com muitas críticas este incidente.
De fato, se deve esperar o comprometimento ético e profissional das empresas construtoras para o cumprimento dentro do prazo acordado a entrega dos prédios com os apartamentos em condições de uso para a acomodação dos hóspedes, como seu objetivo fundamental. Entretanto, a mídia jornalística tem dado um tratamento sobre esta notícia como se fosse um dos maiores problemas da cidade do Rio de Janeiro, desconsiderando as expressões das questões sociais cruciais que recaem cotidianamente sobre os habitantes desta cidade.
A cidade do Rio de Janeiro se urbanizou sem planejamento urbanístico adequado para atender as necessidades de sua população que se expandiu no decorrer do séc. XX e, que continuou neste século. E, para milhares de cidadãos lhes restaram ocupar os morros, os alagados e manguezais, ou seja, espaços marginais para construir suas moradias. E, marginais permaneceram diante dos projetos políticos de prestações de serviços públicos aos olhos do poder público, e vistas como pessoas perigosas que devem ser evitadas, aos olhos da elite carioca. Assim, esses locais marginais se tornaram propícios para o surgimento e desenvolvimento de um poder paralelo ao Estado, formado por organizações criminosas.
O poder das organizações criminosas se expandiu pela cidade de tal forma que ameaça a ordem pública e, expõe a defasagem do poder público não só da cidade do Rio de Janeiro, mas de todo um país, que por clientelismo atende às necessidades dos mais poderosos e, vira as costas aos cidadãos esquecidos nos sertões, nas pequenas cidades e nas periferias das grandes metrópoles.
Essas organizações na disputa com o poder público guerreiam de tal forma que se pode considerar a cidade do Rio de Janeiro em estado de guerra civil, por conta do alto índice de mortes de policiais, traficantes e demais membros da sociedade civil vítimas em decorrência dos conflitos armados e; outros danos causados nas vidas de milhares de pessoas. Danos psicológicos e sociais que marcam perpetuamente toda a existência de uma pessoa e de um espaço geográfico.

Mas, claro que há outras expressões das questões sociais apresentadas nesta cidade e no país, que podemos utilizar este espaço para o nosso debate.

É OU PARECE SER

A vida e suas disputas. Hoje me vi cantando uma canção de Renato Russo que diz que tudo que é demais não é o bastante, que a primeira vez é ...