quinta-feira, 3 de agosto de 2017

TRAUMAS DA VIOLÊNCIA URBANA


Odranoel, 37 anos, ao sair do trabalho e trilhar o caminho para casa foi atingindo por um tiro de fuzil nas pernas, num ponto de ônibus na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Esse incidente se deu em maio de 2017. Desde então iniciou-se seu calvário. Dois meses e meio ele esteve internado no hospital para o tratamento da ferida, e após a alta hospitalar, passou para nova etapa do tratamento com sessões de fisioterapia que permanecerá por meses. Por conta disso, Odranoel foi afastado de seu emprego e, só depois de finalizar o tratamento que poderá avaliar em que condições físicas voltará a trabalhar. Além disso, se deve acrescentar que essa munição não fere apenas o sujeito atingido por ela, mas também as pessoas próximas e a população que convive diariamente com a sensação de insegurança, de que algo trágico poderá acontecer a qualquer momento.
A narrativa acima é de uma de milhares de vítimas que o conflito armado no Rio de Janeiro produziu nesses anos sombrios de guerra civil (não reconhecida oficialmente como essa característica). E, uma vítima atingida por arma de fogo não sofre trauma somente em seu físico, mas também em sua interioridade a ferida é aberta, e que muito lenta é o processo de cicatrização. Isso deixa manifesto que as marcas da violência se amplia e se estende a cada vez que os conflitos se intensificam, se tornando mais complexo confrontá-los em busca de saídas para solucionar essa situação.
Nesse tempo tenebroso, parentes, familiares e membros de organizações sociais realizaram uma caminhada pelo calçadão de Copacabana, Rio de Janeiro, pedindo paz para esta cidade e justiça para a memória dos policiais mortos em combate ao crime organizado ou exterminados pelo fato de ser reconhecidos como policiais, servidores da segurança do Estado. Foram inúmeras vítimas que tornaram alarmantes por conta de constante insegurança. Frequentemente, membros da corporação da polícia militar, recrutas do crime organizado se exterminam mutuamente ou atingem civis em meio a intensas trocas de tiros, numa disputa entre o domínio de áreas por determinada facção criminosa ou a retomada do controle do Estado de desses mesmos espaços urbanos. E, a ampliação desses conflitos, que moroso para se chegar a uma trégua, estende a crise política, social e econômica, em que o Estado está em contínua perda da força legitimadora de garantia da proteção dos cidadãos e de zelo pelo cumprimento da lei, num cenário moral destroçado pelo princípio primitivo da prevalência do mais forte sobre o mais fraco.
E, por conta dos conflitos armados diversas escolas interromperam as aulas por evitar colocar alunos e funcionários em riscos, crianças traumatizadas por conta dos ruídos de impactos das munições, profissionais de saúde mesmo mal remunerados e com salários atrasados se adaptaram para realizar atendimentos de pacientes semelhantes aos locais de guerras armadas de outras localidades do mundo por necessitar atender constantemente pacientes perfurados por armas de fogo, e eles mesmos receosos de serem os próximos pacientes. Isso é apenas para mostrar que o Estado está numa situação decadente, com representantes do poder público que não contam com a confiança da população por causa das denúncias de desvios de verbas públicas e recebimentos ilícitos de dinheiro de empresas privadas. A sociedade a cada dia se demonstra sem limites de parâmetros éticos para moldar atitudes morais de convivência social, que no cotidiano se impera um individualismo hedonista, que entrando em relação com outros indivíduos entram em choque, que consequentemente constrói a sensação de que confrontar com o outro não é mais encontro humano, mas é passear num campo minado que a qualquer momento poderá explodir e levar essa convivência pelos ares. Assim se pode estourar em qualquer briga entre pessoas que podem matar o outro por qualquer motivo trivial.
E, assim inseguro, traumatizado e com a alma armada segue a população. Se sente caminhando em campo minado que interfere até nas relações familiares. Quantas notícias há de explosões de violência nos espaços sociais e, também nos espaços familiares. Compreende-se assim como as munições de armas de fogo podem causar na vida das pessoas quando são disparadas.

2 comentários:

  1. QUANDO A CRIMINALIDADE COMEÇOU A CRESCER NO RIO DE JANEIRO NOS ANOS 60,NINGUEM FEZ NADA,CRESCEU E CRESCEU....AGORA MATA DIARIAMENTE!!

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    1. Não é de hoje que a criminalidade do Rio está numa escala crescente. E, atualmente chegou ao ponto de ma guerra civil comparada com as regiões de grande conflito pelo mundo, como Iraque, Síria, alguns territórios do continente africano e outros mais.

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