terça-feira, 2 de janeiro de 2018

COMPETIÇÃO HUMANA DE CADA DIA


A sociedade vive em constante competição. Em cada lugar e situação se torna propício para estourar uma disputa entre as pessoas para quem pode se impor seu poder, força e astúcia sobre os oponentes. Se disputam assentos nos transportes públicos, primeiro posto nos atendidos em repartições públicas, possuir as melhores roupas e aparelhagens eletrônicos e digitais, atrair mais curtidas nas redes sociais, etc. Os combates se misturam em várias habilidades esportivas aplicadas nos meios urbanos, em que se valem da força física ou da astúcia para se conseguir o que se deseja, mesmo que seja necessário atropelar as regras de convivência social.

Entre milhares de arenas espalhadas por este mundo, talvez pelo universo (pode ser que haja semelhantes competições em outros planetas), num bairro da Zona Sul de São Paulo, há uma galeria que em seu interior se encontra instalada uma casa lotérica. Nesse estabelecimento as pessoas recorrem para pagar suas contas por meio de boletos, comprar jogos e realizar apostas. Durante os dias uteis e aos sábados, os portões da galeria são abertos as 9 horas e, muitas pessoas já se encontram aglomeradas aguardando esse momento como um sinal de partida de uma frenética corrida maluca. Curioso é o período que precede a abertura dos portões, pois, as pessoas vão chegando e serenamente formam filas e trocam palavras uns com os outros. Desde opiniões superficiais da situação política a temas triviais, só mesmo para espantar a ansiedade de aguardar o momento derradeiro do acesso liberado à galeria.

Mas, ao chegar a hora marcada os portões são abertos. Essas pessoas começam disputar entre si, numa corrida frenética, almejando ser o primeiro a ser atendido por uma das atendentes da caixa lotérica. Não há distinção de modalidades: são jovens e idosos, homens e mulheres que guerreiam entre si, utilizando das habilidades e astúcias que possuem para passar por cima dos outros. Essa concorrência promove uma cena tão animalesca que causa aos espectadores desavisados um espanto. Alguns destes se questionam: os humanos não evoluem mais? Estão regredindo? Talvez, o Planeta Terra está sendo construído para as pessoas viverem o eterno combate de todos contra todos.
Nesse combate humano, se percebe que muitos casos cruentos ocorrem cotidianamente: brigas no trânsito, homicídios em nome da defesa da honra por conta da infidelidade conjugal da parceira ou do parceiro, disputas de namorados, divergências em respeitar o espaço alheio, e outros milhares de exemplos que poderão ser dados numa conta quase infinita. Para ilustrar essa reflexão há um fato que se tornou manchete de jornais, o noticiário de um ataque cruento de um menino de 9 anos que matou um adolescente de 12 anos a paulada, por ser constantemente ser por este ofendido ao ser chamado de caolho.

Esta situação não deixa de ter perpassado uma competição. Nesse mundo de culto à beleza corporal e a valorização da aparência, fomenta-se entre as pessoas a disputa para se mostrar quem se apresenta com o corpo mais “esbelto” e “perfeito”. Sendo que essa perfeição as pessoas não alcançam, muitos apelam para ocultar a frustração apontar algum traço do outro como fora de simetria do padrão da beleza imposta, como forma de o inferiorizar, até expor ao outro ao ridículo e, sentir prazer com a humilhação alheia, em o rebaixar.Essas propagandas de receitas que prometem emagrecimentos, rejuvenescimento do corpo, aumento da potência sexual trazem para a nossa sociedade mais danos a já conturbada relação humana contemporânea do que cultivo do espírito fraterno entre as pessoas.

E, assim segue a humanidade, perdida em sua forma e identidade entre as esquinas e espaços públicos nos centros urbanos, se digladiando mutuamente, hipnotizados por mundo fantástico do aparentar e da felicidade de invólucro e artificialidade de expressão, em que se compete de forma animalesca até um lugar para tomar sol, mesmo esse nascendo para todos e, a todos torrar com seus raios ultravioleta. Para não ser tão pessimismo, nele há vitamina D, importante para o corpo humano. Talvez seja essa vitamina o grande prêmio a quem vencer essa guerra.


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