A
sociedade vive em constante competição. Em cada lugar e situação
se torna propício para estourar uma disputa entre as pessoas para
quem pode se impor seu poder, força e astúcia sobre os oponentes.
Se disputam assentos nos transportes públicos, primeiro posto nos
atendidos em repartições públicas, possuir as melhores roupas e
aparelhagens eletrônicos e digitais, atrair mais curtidas nas redes
sociais, etc. Os combates se misturam em várias habilidades
esportivas aplicadas nos meios urbanos, em que se valem da força
física ou da astúcia para se conseguir o que se deseja, mesmo que
seja necessário atropelar as regras de convivência social.
Entre
milhares de arenas espalhadas por este mundo, talvez pelo universo
(pode ser que haja semelhantes competições em outros planetas), num
bairro da Zona Sul de São Paulo, há uma galeria que em seu interior
se encontra instalada uma casa lotérica. Nesse estabelecimento as
pessoas recorrem para pagar suas contas por meio de boletos, comprar
jogos e realizar apostas. Durante os dias uteis e aos sábados, os
portões da galeria são abertos as 9 horas e, muitas pessoas já se
encontram aglomeradas aguardando esse momento como um sinal de
partida de uma frenética corrida maluca. Curioso é o período que
precede a abertura dos portões, pois, as pessoas vão chegando e
serenamente formam filas e trocam palavras uns com os outros. Desde
opiniões superficiais da situação política a temas triviais, só
mesmo para espantar a ansiedade de aguardar o momento derradeiro do
acesso liberado à galeria.
Mas, ao
chegar a hora marcada os portões são abertos. Essas pessoas começam
disputar entre si, numa corrida frenética, almejando ser o primeiro
a ser atendido por uma das atendentes da caixa lotérica. Não há
distinção de modalidades: são jovens e idosos, homens e mulheres
que guerreiam entre si, utilizando das habilidades e astúcias que
possuem para passar por cima dos outros. Essa concorrência promove
uma cena tão animalesca que causa aos espectadores desavisados um
espanto. Alguns destes se questionam: os humanos não evoluem mais?
Estão regredindo? Talvez, o Planeta Terra está sendo construído
para as pessoas viverem o eterno combate de todos contra todos.
Nesse
combate humano, se percebe que muitos casos cruentos ocorrem
cotidianamente: brigas no trânsito, homicídios em nome da defesa da
honra por conta da infidelidade conjugal da parceira ou do parceiro,
disputas de namorados, divergências em respeitar o espaço alheio, e
outros milhares de exemplos que poderão ser dados numa conta quase
infinita. Para ilustrar essa reflexão há um fato que se tornou
manchete de jornais, o noticiário de um ataque cruento de um menino
de 9 anos que matou um adolescente de 12 anos a paulada, por ser
constantemente ser por este ofendido ao ser chamado de caolho.
Esta
situação não deixa de ter perpassado uma competição. Nesse mundo
de culto à beleza corporal e a valorização da aparência,
fomenta-se entre as pessoas a disputa para se mostrar quem se
apresenta com o corpo mais “esbelto” e “perfeito”. Sendo que
essa perfeição as pessoas não alcançam, muitos apelam para
ocultar a frustração apontar algum traço do outro como fora de
simetria do padrão da beleza imposta, como forma de o inferiorizar,
até expor ao outro ao ridículo e, sentir prazer com a humilhação
alheia, em o rebaixar.Essas propagandas de receitas que prometem
emagrecimentos, rejuvenescimento do corpo, aumento da potência
sexual trazem para a nossa sociedade mais danos a já conturbada
relação humana contemporânea do que cultivo do espírito fraterno
entre as pessoas.
E, assim
segue a humanidade, perdida em sua forma e identidade entre as
esquinas e espaços públicos nos centros urbanos, se digladiando
mutuamente, hipnotizados por mundo fantástico do aparentar e da
felicidade de invólucro e artificialidade de expressão, em que se
compete de forma animalesca até um lugar para tomar sol, mesmo esse
nascendo para todos e, a todos torrar com seus raios ultravioleta.
Para não ser tão pessimismo, nele há vitamina D, importante para o
corpo humano. Talvez seja essa vitamina o grande prêmio a quem
vencer essa guerra.
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