Quando se
passa de ônibus pelo viaduto do Caju, na zona portuária do Rio de
Janeiro, encontra-se em suas colunas diversas pinturas de murais com
os escritos de diversas palavras, que da altura das janelas dos
automóveis são visíveis. Num primeiro momento, essas palavras
parecem se encontrar desorganizadas e confusas. Mas, observando com
atenção, elas começam a fazer sentido com frases que remetem a
experiência de crença em Deus, como bondoso e criador, mas o mundo
por ele criado tomado por tantas injustiças e maldades. Essas
pinturas se tornaram patrimônio cultural, no qual a Prefeitura do
Rio de Janeiro se tornou a responsável por sua conservação. E, o
autor dessa obra ficou conhecido como Profeta Gentileza.
Profeta
Gentileza! Ele andou por mais de 20 anos pelas ruas centrais das
cidades de Niterói e Rio de Janeiro, como pregador andarilho aos
transeuntes, aos passageiros nos ônibus e barcas e aos que com ele
se encontravam por tantas esquinas e lojas. Ele caminhava
transmitindo seus ensinamentos como se fosse um enviado de Deus.
Assim ele mesmo acreditava ser: enviado pelo divino para instruir os
seres humanos que gentileza gera gentileza. Com essa simples frase
resumia sua mensagem. Num mundo em que o espírito humano se torna
recrudescido e, as pessoas tomadas por frenética disputa entre si,
as palavras do Profeta Gentileza se tornou um caminho alternativo,
fugindo até mesmo da racionalidade da constituição gramatical,
como a sua obra demonstra aos leitores.
Apesar
das pinturas do Profeta Gentileza se encontrar no Rio de Janeiro, ele
é natural de São Paulo, da cidade de Cafelândia, e em outra cidade
paulista ele se despediu desse mundo, em Mirandópolis. Apesar do
nome missionário de Gentileza, há diversas pessoas que afirmam que
nem sempre era dessa forma que se comportava com as pessoas, e que
costumava agir com estupidez e moralismo. Algumas mulheres e crianças
dele fugiam de medo. Essa controvertida discussão de sua
personalidade chegou aos bancos das universidades e nos editoriais de
jornais fluminenses. Mas, interessante se dar conta que um homem,
muitas vezes, descrito como louco e lunático pode ter muita lucidez
se lhe der atenção às suas obras.
Em se
tratando de mensagem religiosa, Profeta Gentileza retrata sua
formação catequética. Reconhece Deus como Criador do universo e,
que nós somos seus filhos e irmãos uns dos outros. Por conta disso,
o ideal de vida para a humanidade seria a convivência fraterna, se
apresentando gentis e agradecidos mutuamente. Deveríamos, neste caso
deixar de lado o ódio e o rancor. E, em relação ao universo
político e econômico, ele definia o capitalismo como o capeta, que
deveria ser extirpado. Qualidades como ambição, ganância,
competitivismo, hedonismo exacerbado, que vistas como desenvolvidas
com a expansão do capitalismo eram condenadas com veemência por
ele, que elas transportavam o mundo para sua ruína.
Para
romper com o capitalismo, Profeta Gentileza acreditava que a mudança
de atitude das pessoas seria fundamental. Entre os que atravessavam
apressados as ruas dos centros do Rio e Niterói, Gentileza pregava a
necessidade de serem gentis uns com os outros, e deixarem de manter
feição recrudescida dos rostos e adotarem um semblante mais sereno.
Com essa mudança, ele acreditava que a fraternidade entre as pessoas
evoluiria e, assim haveria de romper a estrutura predatória do
capitalismo. Por conta de suas críticas, as autoridades, por um
determinado tempo, suspeitaram que ele era ligado ao Partido
Comunista.
Todavia,
muitos se podem questionar o Profeta Gentileza por pensar que este
foi muito simplório por apresentar à sociedade que com gestos
gentis e agradecidos poderão mudar a ordem social marcado por
injustiças e de engessamento à alma humana. Porém, afirmar que ele
não seguia uma linha de raciocínio, incorre-se numa limitação em
que apenas enxerga a verdade humana no âmbito da visão do método
analítico e, não se amplia para uma observação mais extensa do
movimento dinâmico do espírito, em que as palavras e as artes do
Gentileza se permitiram alcançar.
Do
Profeta Gentileza se pode constatar que o desenvolvimento dos estudos
e títulos acadêmicos são importantes, porém, não somente quem
possui títulos obtêm conhecimentos e leem a realidade social que
nos cerca. E, assim fiquemos com sua principal frase: gentileza gera
gentileza.
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