sábado, 4 de março de 2017

FALECIMENTO DE ADOLESCENTE E QUESTÕES SOCIAIS

                        
No domingo, dia 26 de fevereiro de 2017, na Zona Norte da cidade de São Paulo, o adolescente João Vitor morreu após se encontrar envolvido numa confusão com os seguranças de uma filial da lanchonete Habib’s. Para esclarecer esta ocorrência ao menos duas versões foram noticiadas pela imprensa: a primeira é que João Vitor teria sofrido um mal súbito e, em decorrência disso entrou em óbito por parada cardio respiratória; e a outra versão é que o adolescente foi agredido pelos seguranças e, não resistindo os golpes, faleceu. E, diante da grande repercussão que ganhou esta ocorrência, os jornalistas coletaram por meio de entrevistas que João Vitor era conhecido pelos frequentadores do local, onde costumava pedir esmola e comida. Esse fato é uma das inúmeras expressões das questões sociais que merece atenção para reflexão.
Essa ocorrência está sendo investigada pela polícia. Caso a investigação comprove que o adolescente foi agredido, os seguranças hão de ser responsabilizados em conformidade com o Código Penal. Entretanto, caso seja esse o desfecho, por toda responsabilidade sobre os ombros desses seguranças e, considerar por encerrado esta ocorrência sem debates e reflexões em horizontes para além da área judicial, dificilmente se chegará à fonte dessas mazelas sociais; fatos semelhantes ocorrerão e, esses conflitos continuarão a se perenizar nos espaços urbanos. Pois, eles não ocorrem isoladamente como pode parecer de imediato aos nossos sentidos, mas há uma ligação interconectada com um ambiente social, que produz e reproduz relações interpessoais e sociais, originando diversas expressões das questões sociais, numa sociedade marcada por avanços tecnológicos por um lado, mas de desigual distribuição dos ganhos deste mesmo avanço por outro. E, uma dessas expressões é surgimento de pessoas pedintes, principalmente nos espaços urbanos das grandes metrópoles.          
Partindo da notícia do falecimento de João Vitor e da repercussão da mesma na sociedade, o ideal será que essa ocorrência não seja considerada solucionada após as conclusões dos trabalhos investigativos. Para os investigadores, enquanto no exercício profissional é compreensível esta postura, mas nós como cidadãos e membros da sociedade, podemos refletir mais profundamente sobre esses conflitos sociais. E, se tratando de seguranças de estabelecimentos comerciais, especificamente de alimentações, e de inúmeros pedintes são apresentados elementos que auxiliam pensar a nossa sociedade atual.
Os seguranças de estabelecimentos são pressionados, tanto pelos patrões quanto pelos clientes, em manter o local em segurança e, afastar quaisquer transtornos a estes, que inclui o afastamento de pedintes do recinto. Eles são ameaçados em perder espaço no mercado de trabalho, e assim correr riscos de não ter meios de garantir o sustento próprio e da família. Nessas circunstâncias os seguranças diariamente entram em confronto com diversos pedintes. Muitos dos pedintes são formados por moradores em situação de rua, dependentes químicos, pessoas de famílias com membros desempregados e subempregados e, alguns que ao perderem perspectivas de vida, tornaram a vida de pedinte como “emprego” para se sustentar. Diante deste cenário, este fato pode ser tratado para além dos limites judiciais, pois é uma expressão das questões sociais, que não se percebe de modo imediato como se costuma ver os fatos considerados isoladamente.

Portanto, se ampliarmos nossa visão, perceberemos no horizonte a necessidade de debates multidisciplinar, de temas transversais nas diversas áreas de conhecimento para não fixar nossa atenção na pequena ponta do fato que se apresenta de imediato aos nossos sentidos, e sim, no problema mais profundo que envolve a estrutura social que se sedimenta nas relações sociais que nos encontramos inseridos; que é mais abrangente do que nos informam as mídias televisiva e digital. E, compreenderemos também que há mais pessoas e instituições envolvidas nesses confrontos.

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