No
domingo, dia 26 de fevereiro de 2017, na Zona Norte da cidade de São Paulo, o
adolescente João Vitor morreu após se encontrar envolvido numa confusão com os
seguranças de uma filial da lanchonete Habib’s. Para esclarecer esta ocorrência
ao menos duas versões foram noticiadas pela imprensa: a primeira é que João
Vitor teria sofrido um mal súbito e, em decorrência disso entrou em óbito por
parada cardio respiratória; e a outra versão é que o adolescente foi agredido
pelos seguranças e, não resistindo os golpes, faleceu. E, diante da grande
repercussão que ganhou esta ocorrência, os jornalistas coletaram por meio de
entrevistas que João Vitor era conhecido pelos frequentadores do local, onde
costumava pedir esmola e comida. Esse fato é uma das inúmeras expressões das
questões sociais que merece atenção para reflexão.
Essa
ocorrência está sendo investigada pela polícia. Caso a investigação comprove
que o adolescente foi agredido, os seguranças hão de ser responsabilizados em
conformidade com o Código Penal. Entretanto, caso seja esse o desfecho, por
toda responsabilidade sobre os ombros desses seguranças e, considerar por
encerrado esta ocorrência sem debates e reflexões em horizontes para além da
área judicial, dificilmente se chegará à fonte dessas mazelas sociais; fatos
semelhantes ocorrerão e, esses conflitos continuarão a se perenizar nos espaços
urbanos. Pois, eles não ocorrem isoladamente como pode parecer de imediato aos
nossos sentidos, mas há uma ligação interconectada com um ambiente social, que
produz e reproduz relações interpessoais e sociais, originando diversas
expressões das questões sociais, numa sociedade marcada por avanços
tecnológicos por um lado, mas de desigual distribuição dos ganhos deste mesmo
avanço por outro. E, uma dessas expressões é surgimento de pessoas pedintes,
principalmente nos espaços urbanos das grandes metrópoles.
Partindo
da notícia do falecimento de João Vitor e da repercussão da mesma na sociedade,
o ideal será que essa ocorrência não seja considerada solucionada após as
conclusões dos trabalhos investigativos. Para os investigadores, enquanto no
exercício profissional é compreensível esta postura, mas nós como cidadãos e
membros da sociedade, podemos refletir mais profundamente sobre esses conflitos
sociais. E, se tratando de seguranças de estabelecimentos comerciais,
especificamente de alimentações, e de inúmeros pedintes são apresentados
elementos que auxiliam pensar a nossa sociedade atual.
Os
seguranças de estabelecimentos são pressionados, tanto pelos patrões quanto
pelos clientes, em manter o local em segurança e, afastar quaisquer transtornos
a estes, que inclui o afastamento de pedintes do recinto. Eles são ameaçados em
perder espaço no mercado de trabalho, e assim correr riscos de não ter meios de
garantir o sustento próprio e da família. Nessas circunstâncias os seguranças
diariamente entram em confronto com diversos pedintes. Muitos dos pedintes são
formados por moradores em situação de rua, dependentes químicos, pessoas de
famílias com membros desempregados e subempregados e, alguns que ao perderem
perspectivas de vida, tornaram a vida de pedinte como “emprego” para se
sustentar. Diante deste cenário, este fato pode ser tratado para além dos
limites judiciais, pois é uma expressão das questões sociais, que não se
percebe de modo imediato como se costuma ver os fatos considerados
isoladamente.
Portanto,
se ampliarmos nossa visão, perceberemos no horizonte a necessidade de debates
multidisciplinar, de temas transversais nas diversas áreas de conhecimento para
não fixar nossa atenção na pequena ponta do fato que se apresenta de imediato
aos nossos sentidos, e sim, no problema mais profundo que envolve a estrutura
social que se sedimenta nas relações sociais que nos encontramos inseridos; que
é mais abrangente do que nos informam as mídias televisiva e digital. E,
compreenderemos também que há mais pessoas e instituições envolvidas nesses
confrontos.
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