Quando
se faz reflexões de estudos da cultura, sociedade, política e
outras mais áreas de estudos humanos e sociais por meio de
literatura de corrente marxista, é comum se utilizar termos como
classe dominante, pensamento hegemônico e ideologia dessa mesma
classe que domina os espaços das relações sociais e da cultura.
Claro que nem todos os estudiosos concordam com o modo de analisar os
estudos humanos e sociais por meio da corrente marxista e, isso é
favorece a diversificação do pensamento e evita reducionismos de
manter os estudos acadêmicos e formação profissional como forma de
doutrinamento. Na religião, cada confissão de fé constrói sua
base doutrinária como verdade de fé, mas na ciência o
doutrinamento não enriquece na busca de conhecimento com base em
comprovação em investigações palpáveis e concretas, e quando alguém se apresenta como científico, mas se prende em conceitos doutrinários específicos e imutáveis, dificilmente se evitará em cair em erros graves e danosos para o indivíduo e sociedade.
Nesta
reflexão serão usados termos comuns na literatura marxista para
comentar sobre a cultura dominante da moda e beleza, que tem se
tornado pensamento hegemônico mesmo sem base de sustentação de
comprovação científica. E, se tratando da visão de ideal de
beleza, conforme o pensamento hegemônico de mercado da moda, as
mulheres são mais afetadas por esta ideologia e, que interferem
cotidianamente em sua autoestima. O padrão de beleza introjetado na
consciência coletiva por uma visão uniformizadora tem propagado um
estilo de comportamento que legitima a exclusão e o descarte das
pessoas que não atendem esse padrão. Ao pesquisar narrativas de
mulheres gordas, podemos coletar informações que mostram situações
constrangedoras por elas sofridas, constatando que o domínio da
cultura da moda causa comportamentos perversos, que encontram
legitimidade para ser cruel e hostil com as pessoas fora do que se é
determinado como belo.
E,
esse tipo de legitimidade para comentar sobre pessoas gordas com
crueldade se reveste muitas vezes com a pele de liberdade de
expressão. Nas redes sociais se tornaram comuns as agressões às
pessoas consideradas fora do padrão de beleza, com requinte de
crueldade semelhante ao tempero de propagação do racismo. Num blog,
um blogueiro que apenas se identifica com as iniciais de seu nome e
sobrenome apresenta seus argumentos sobre mulheres como sendo o
porta-voz de todos os homens. Com isso, responde as perguntas de seus
usuários como especialista da mentalidade e desejo masculino, que
tem como pano de fundo um pensamento hegemônico que manipula a visão
do que é ser masculino, do que esse deseja, se comporta e analisa
como belo.
E,
numas das dúvidas apresentadas ao blogueiro responder, uma
internauta descreveu que sua amiga, simpática, bonita e gordinha que
apesar das qualidades, aos 25 anos não tinha se relacionado com
nenhum homem. Essa questão foi a porta de entrada ao blogueiro
justificar que o fato da amiga da internauta ser gorda é o motivo
principal dela não ter conseguido se relacionar com homem algum. E,
para reforçar seu argumento, afirma que o fato do homem apresentar
interesse sexual por uma mulher por meio do sentido visual, ele não
se sente estimulado sexualmente por mulheres gordas. E, ainda
caracterizou amiga da internauta como hipopótamo.
Ao
se apropriar de argumentos pautados por visão preconceituosa e
pseudo-científica, o misterioso blogueiro concluiu por uma possível
lógica o fato do despertar do desejo sexual masculino passar
principalmente pelo sentido visual a repulsa por mulheres gordas.
Entretanto, o fato do homem se despertar sexualmente por uma mulher
pelo sentido visual, não significa que é apenas por mulheres
consideradas dentro do padrão de beleza desta cultura dominante,
pois, os desejos e gostos estéticos masculinos não são uniformes
como deseja impor o mercado dominante da moda. O pensamento
hegemônico divulga pelos meios de comunicação uma visão uniforme
de ideal de beleza, causando conseqüências destrutivas para
milhares de homens e mulheres, sem sustentação verídica pelos
meios científicos.
Para
encerrar essa reflexão, será descrito um fato real narrado pela
irmã de uma vítima fatal da cultura hegemônica da estética.
Uma
jovem, mais ou menos com 24 anos, habitante da cidade de São Paulo,
sonhadora com a estabilidade profissional e constituição de uma
família, se apaixonou por um rapaz, do apartamento vizinho do prédio
onde residia. Como uma moça apaixonada, buscava coragem para se
declarar. Um dia tomou a decisão e se declarou ao rapaz seu
sentimento e, o desejo de namorá-lo. Esse rapaz respondeu que não
aceitaria, pois sentiria vergonha de andar de mãos dadas na rua com
uma mulher gorda. A jovem recebeu a negativa da forma que foi dada
como um duro golpe. Uma ferida se abriu e, que mais para final da
narrativa se perceberá que nunca mais se cicatrizou.
E,
seguindo adiante a vida, após esse evento traumático, a jovem
acrescentou na rotina do dia a dia, a agenda de dieta para emagrecer.
Com essa atitude emagreceu muitos quilos.
Meses
depois, ela se encontrou com o mesmo rapaz pelos corredores do
prédio. Ao notar a diferença física da jovem, ele disse que com o
corpo no estado que ela se encontrava atualmente já poderia
namorá-la. Essa segunda observação do rapaz foi mais um duro
golpe. Dessa vez foi fatal. A jovem se retirou da presença dele
aparentando serenidade, entrou no prédio onde morava e, se jogou
pela janela.
A
pressão por atender o apelo da cultura dominante da moda tem causado
adoecimento em muitas mulheres. Os comentários e as brincadeiras
advindas de muitas pessoas, inclusive das mais próximas como
familiares, esposos e amigos, que aparentam ser amistosas são
venenos para a alma e deterioram a autoestima das pessoas
consideradas fora do padrão cultural da beleza. E, essa imposição
cultural tem legitimado atitudes perversas que cotidianamente ocorrem
pelos espaços urbanos, e em até nas relações familiares.
Exigências divulgadas pelo mercado da moda adoecem não somente as
modelos, mas também uma sociedade, principalmente as mulheres que
são mais pressionadas para manter o padrão de beleza que este
mercado define.
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