terça-feira, 4 de abril de 2017

CULTURA DA MODA E BÁRBARIE


Quando se faz reflexões de estudos da cultura, sociedade, política e outras mais áreas de estudos humanos e sociais por meio de literatura de corrente marxista, é comum se utilizar termos como classe dominante, pensamento hegemônico e ideologia dessa mesma classe que domina os espaços das relações sociais e da cultura. Claro que nem todos os estudiosos concordam com o modo de analisar os estudos humanos e sociais por meio da corrente marxista e, isso é favorece a diversificação do pensamento e evita reducionismos de manter os estudos acadêmicos e formação profissional como forma de doutrinamento. Na religião, cada confissão de fé constrói sua base doutrinária como verdade de fé, mas na ciência o doutrinamento não enriquece na busca de conhecimento com base em comprovação em investigações palpáveis e concretas, e quando alguém se apresenta como científico, mas se prende em conceitos doutrinários específicos e imutáveis, dificilmente se evitará em cair em erros graves e danosos para o indivíduo e sociedade.
Nesta reflexão serão usados termos comuns na literatura marxista para comentar sobre a cultura dominante da moda e beleza, que tem se tornado pensamento hegemônico mesmo sem base de sustentação de comprovação científica. E, se tratando da visão de ideal de beleza, conforme o pensamento hegemônico de mercado da moda, as mulheres são mais afetadas por esta ideologia e, que interferem cotidianamente em sua autoestima. O padrão de beleza introjetado na consciência coletiva por uma visão uniformizadora tem propagado um estilo de comportamento que legitima a exclusão e o descarte das pessoas que não atendem esse padrão. Ao pesquisar narrativas de mulheres gordas, podemos coletar informações que mostram situações constrangedoras por elas sofridas, constatando que o domínio da cultura da moda causa comportamentos perversos, que encontram legitimidade para ser cruel e hostil com as pessoas fora do que se é determinado como belo.
E, esse tipo de legitimidade para comentar sobre pessoas gordas com crueldade se reveste muitas vezes com a pele de liberdade de expressão. Nas redes sociais se tornaram comuns as agressões às pessoas consideradas fora do padrão de beleza, com requinte de crueldade semelhante ao tempero de propagação do racismo. Num blog, um blogueiro que apenas se identifica com as iniciais de seu nome e sobrenome apresenta seus argumentos sobre mulheres como sendo o porta-voz de todos os homens. Com isso, responde as perguntas de seus usuários como especialista da mentalidade e desejo masculino, que tem como pano de fundo um pensamento hegemônico que manipula a visão do que é ser masculino, do que esse deseja, se comporta e analisa como belo.
E, numas das dúvidas apresentadas ao blogueiro responder, uma internauta descreveu que sua amiga, simpática, bonita e gordinha que apesar das qualidades, aos 25 anos não tinha se relacionado com nenhum homem. Essa questão foi a porta de entrada ao blogueiro justificar que o fato da amiga da internauta ser gorda é o motivo principal dela não ter conseguido se relacionar com homem algum. E, para reforçar seu argumento, afirma que o fato do homem apresentar interesse sexual por uma mulher por meio do sentido visual, ele não se sente estimulado sexualmente por mulheres gordas. E, ainda caracterizou amiga da internauta como hipopótamo.
Ao se apropriar de argumentos pautados por visão preconceituosa e pseudo-científica, o misterioso blogueiro concluiu por uma possível lógica o fato do despertar do desejo sexual masculino passar principalmente pelo sentido visual a repulsa por mulheres gordas. Entretanto, o fato do homem se despertar sexualmente por uma mulher pelo sentido visual, não significa que é apenas por mulheres consideradas dentro do padrão de beleza desta cultura dominante, pois, os desejos e gostos estéticos masculinos não são uniformes como deseja impor o mercado dominante da moda. O pensamento hegemônico divulga pelos meios de comunicação uma visão uniforme de ideal de beleza, causando conseqüências destrutivas para milhares de homens e mulheres, sem sustentação verídica pelos meios científicos.
Para encerrar essa reflexão, será descrito um fato real narrado pela irmã de uma vítima fatal da cultura hegemônica da estética.
Uma jovem, mais ou menos com 24 anos, habitante da cidade de São Paulo, sonhadora com a estabilidade profissional e constituição de uma família, se apaixonou por um rapaz, do apartamento vizinho do prédio onde residia. Como uma moça apaixonada, buscava coragem para se declarar. Um dia tomou a decisão e se declarou ao rapaz seu sentimento e, o desejo de namorá-lo. Esse rapaz respondeu que não aceitaria, pois sentiria vergonha de andar de mãos dadas na rua com uma mulher gorda. A jovem recebeu a negativa da forma que foi dada como um duro golpe. Uma ferida se abriu e, que mais para final da narrativa se perceberá que nunca mais se cicatrizou.
E, seguindo adiante a vida, após esse evento traumático, a jovem acrescentou na rotina do dia a dia, a agenda de dieta para emagrecer. Com essa atitude emagreceu muitos quilos.
Meses depois, ela se encontrou com o mesmo rapaz pelos corredores do prédio. Ao notar a diferença física da jovem, ele disse que com o corpo no estado que ela se encontrava atualmente já poderia namorá-la. Essa segunda observação do rapaz foi mais um duro golpe. Dessa vez foi fatal. A jovem se retirou da presença dele aparentando serenidade, entrou no prédio onde morava e, se jogou pela janela.
A pressão por atender o apelo da cultura dominante da moda tem causado adoecimento em muitas mulheres. Os comentários e as brincadeiras advindas de muitas pessoas, inclusive das mais próximas como familiares, esposos e amigos, que aparentam ser amistosas são venenos para a alma e deterioram a autoestima das pessoas consideradas fora do padrão cultural da beleza. E, essa imposição cultural tem legitimado atitudes perversas que cotidianamente ocorrem pelos espaços urbanos, e em até nas relações familiares. Exigências divulgadas pelo mercado da moda adoecem não somente as modelos, mas também uma sociedade, principalmente as mulheres que são mais pressionadas para manter o padrão de beleza que este mercado define.

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